segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Semente

Os olhares penetram-se, o meu e o teu
Mantenho-me inebriada pela tua beleza
Firme coloco a rosa nas tuas mãos
Tremo na espera de lhe pegares
Vais e voltas num pestanejar longo
O coração salta, claustrofóbico, quer sair
Sorris e pegas-lhe no exacto ponto onde deves...
A rosa faz-se semente na tua mão
Agora é tua
e minha!!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Inevitável

Quando a coruja pia ao anoitecer
Caiem-me as pétalas ao sabor do vento
lentamente doem rasgando o ar
que sou eu
o corpo mórbido desiste e vai
em cada pétala
o fruto que cresce é a alma
o meu, o teu… mil no coração de cada um
as pétalas vão caindo
são mais no ar, menos na flor…
o dia é a dor, a noite as lágrimas
as tuas pétalas mantêm-se
firmes nas tuas flores
espero…
Adeus!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sou de novo triste...


A imagem estilhaça-se sob o meu corpo enquanto a mente desdobra-se a focá-la procurando o sentido do nada. As peças voam e apartam-se sem controlo e eu, espalhada no chão como a terra atirada, lanço-me no desespero de as apanhar, de as juntar... Duas curvas, duas convergentes... pulsam descompassadas enquanto cirzo o meu coração para ninguém ver! Olho, paranóide. em redor, fujo do pejo que me caça e domina. Volto. Sou de novo triste, sou de novo eu... olho com saudade para mim feliz.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Amante!


Na impossibilidade de pisar a terra, que é a vida, sob os meus pés, vou vagueando na etérea possibilidade de ser…  Ando às voltas na negridão da cova em que a liberdade me detém, a olhar o brilho da aparência que me derruba… Pareço nada e, por parecer, o meu coração sangra de morte enquanto sou tudo, que me remenda! A cova nunca foi o meu lar, vivi no brilho de ser e parecer… definho em não parecer… não sou. É uma gaiola dourada em azul e diamante, a inveja paira numa sombra de rapina que me fortalece… o nosso amor, qual Atlas, vai suportando o vazio que me domina… preciso de ser, quero ser, sou. Amputada em ser, tento alcançar o limiar do buraco sem poder agarrar… amante no erro de se julgar legítima olvidando olhar a sua condição nos olhos dos outros…

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Esperança...


Um dia gostava de me sentir bonita… como sou…
Poder dizer ao vento que sou livre… que sou…
Correr nas voltas da sorte sentida… que tenho…
Sentar-me na vida da inveja dos outros… que sou…
Gostava de poder dizer ao mundo que me amas… como amas…
Acreditar que a esperança é uma coisa boa… que é…

domingo, 26 de junho de 2011

Flutuar no teu Amor


Flutua, meu amor, na ponta dos meus dedos
Enquanto me embalas nas tuas mãos
Deixa-te levar  no caminho em que te navego
Conduz-me na superfície com as hélices do coração
Não oiço, não caminho, não me mexo...
A água, densa,  passa no teu corpo, não te molha....
A beleza impede que te fundas no líquido dourado
O Amor invade-me pelo olhar-te
O Amor invade-me pelo olhares-me
Não vejo, volto a não ouvir, mexo-me...
Encontro-te-me na tua boca,
Procuro-te na ponta das minhas unhas
Reunes-te dentro de mim
Dominas-me num abraço movido a desejo
Tens-me: sou tua!!!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Viver e Amar

Atravessa o caminho de ouro alvo até ao meu regaço e vive aí; ama aí.
Atravessa a água das Tágides e entrelaça-te nelas por um momento para caíres nos meus braços e vive aí; ama aí.
Atravessa o ar de metal, sonha o nosso Saturno, enrosca-te no meu abraço e vive aí; ama aí.
Desenha-te em linhas gregas em mim, pinta-te impressionista, fala-me de amor, esquece-me a dor.
Traz-me uma fogueira que me aqueça dentro, fundo na alma, que me incendeie a calma e vivemos aí; amamos aí.
Corre e descansa em mim, traça um mapa de mim, percorre as minhas vielas e lugares; dá-me a mão.
Atreve-te no meu coração e vives aí; amo-te aí.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Vesta

Em mim dado e aceite vaporizas-te numa miríade de gotículas que tento segurar... é vão o meu esforço. Quero escrever-te com voz de poeta numa pedra de roseta em mil línguas, quero escrever-te amor. A pena não roça o papel, o cinzel não arranha a pedra eu não te alcanço. Suplício de Tântalo que me envolve e constringe, és quase meu mas nunca és. Lambes-me com o verbo que figuro ler como me mostras. Leio a verdade. Mente embotada a minha que olvida a fealdade que me desconvive. Vesta pretendente a Vénus, criatura errónea, enviesada numa festa de rectas...

Máxima

Não ficar feliz pela acção de outro até saber qual a razão desse outro com essa acção!! Nova máxima de defesa da minha vida... Farta de sentir o tapete deslizar debaixo dos meus pés...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dualidade

Nau ancorada no teu cais depois de viajar por tórridos destinos de prazer.
Sinto a tua pele na minha enquanto nos entrelaçamos para encontrar Morfeu.
As nossas peles conversam fora do nosso controlo, enroscamo-nos mais e as palavras dos nossos corpos abrem-se em sentir, calor e paixão.
Num grão de sílica de Cronos apoderas-te dos meus sentidos enquanto enlouqueço com a tua imagem, profundamente bela, a diluir-se para lá do querer.
És peça perdida de mim que encontro… ao fim de uma vida chega ao seu lugar.
Sou sol e reflectes-me em ti, sou lua na tua órbita em ciclos de êxtase, sou planeta que depende do teu calor.
Somos um sistema além da via láctea que se consome em amor…
e esgota-se nesse amor…
e dói nesse amor…
e morre nesse amor…

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Pretensão de Uma Lua

Saturno tem muitas luas que não o sendo prendem-se à órbita do querer. Creêm-se diferentes na sua igualdade de serem luas. Saturno impera com um floco de algodão negro de mentira. Elas eternizam-se desfiando cornucópias de mariposas que embatem cegamente contra a incandescência. Não veêm, não sentem, enrolam-se ternamente no negrume do engano. As luas são felizes quando Saturno as olha. Luas infelizes, tristes e presunçosas que lambem o seu amo que desprezam. Existem no propósito de girar à sua volta e perdem o sentido de serem luas, se não mais, luas. Sofre, Saturno, de mão dada a todas, falha enquanto se esconde em sofismas que lhe permitem continuar a brilhar. E, no entanto, não brilha.

Não sou uma lua. Desejo ser o sol a quem reenvias o brilhar.

Perseguição

Corre célere antes dos meus passos, foge em luz antes da minha espada, enterra-te, esconde-te ou enfrenta-me! Não fales enquanto te persigo, respira apenas e corre... deixa a vida passar, pesada, enquanto te apanho e te roubo o ar!!! Não vislumbras a minha face, não sabes quem sou. Indagas, enquanto tropeças em surpresa nas pedras que controlo. Voo e envolvo-te no breu que te vai sufocando, lentamente, uma sombra quente, irrespirável... peste!! Abandonas a batalha, em que não sabes que lutas, arrastada pelo meu coração em guerra afogada em golfadas de carmim pulsante...  

À Carga!!!!

Volto a gostar de guerras com sangue, mortos, estropiados e sofrimento. Gosto da trincheira, da luta corpo a corpo e da baioneta. Enterrar a espada entre as costelas e sentir a dificuldade de a tirar. O esguicho de sangue quente do inimigo na minha face!!! Do cheiro a queimado enquanto se mente aos feridos e se recolhe os mortos. Das lanças enterradas nos cavalos, do toque à carga de cavalaria. Da bandeira, do tambor e do clarim!! Da loucura da batalha, ser cega no pleno dos sentidos, avançar sempre a golpe de machado, não ver seres humanos mas um inimigo!! Sem falas mansas, acordos, valsas amargas e abraços doces. A guerra, só a guerra conquista território, só com a guerra podemos lutar por enterrar a nossa bandeira no coração da dor...

sábado, 29 de janeiro de 2011

Arame V

Nesse momento em glória em que finges que me queres, as nossas mãos são trespassadas por um raio e despedaçam-se para sempre em pó, no nada...
Estou em queda, passo por nós: pelas mãos dadas, o portão fechado, o desejo, os encontros; quando as nossas mentes se entrelaçavam num querer único, num ser único, quando os nossos corações se fundiam - o meu no querer, o teu na minha fantasia. Percorro derradeira a tua pele, o teu pulsar, recebo a verdade do teu toque no meu peito enquanto o meu coração desmultiplica-se num milhão de borboletas que me abandonam... Fecho os olhos e deixo-me ir na dor, enquanto caio. Ganho velocidade pelo abismo imenso, incendeio-me e diluo-me para sempre em cinzas nesse ar gelado enquanto os meus lábios vão desenhando: AMO-TE........ Fim

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Gatos no Coração

O coração humano vive deslocado no peito de um ser que pensa... É intolerável... é dor a cada batimento...  é assaltado violentamente pela mente, que, de forma vã, tenta acalmar o que sente! Cai, parte-se... e os pedaços correm loucos em busca uns dos outros, chocando e fundindo-se até serem coração de novo. O humano não vive só. Definha e seca. E a bomba lá volta ao peito, de novo a bater, irriga a mente que o faz sofrer. Alimenta a boca da mão que o maltrata! No manto negro da noite, a mente dorme e o corpo, em golfadas que acompanham as batidas, contorce-se no carpir da dor. Morre em espinhos de sangue e volta a morrer, morrer... No despontar da luz, no primerio raio do olhar, a mente acorda e o coração engole os soluços, volta do ébano ao carmim, na ânsia louca de ser amado... Para encontrar repetidamente o chão e estilhaçar-se, quebrar-se até os pedaços não mais encontrarem os outros e não mais voltar a amar.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Arame IV

... E é então que a luz se torna envolvente e tangível e invade o meu coração! O arame é, agora, uma estrada de tijolos amarelos que percorro ao encontro da coragem... Mais depressa, corro; transformo o percurso num raio incandescente que me transporta além da dor! O unicórnio volta alvo e brilhante elevando-me; sou livre! Estou atirada numa nuvem a olhar o céu... Vens, de novo, junto a mim, no meu respirar e inspiro-te! Olhas-me, queres-me! Cada centímetro de ti reconstrói-se na minha pele; Sinto-te! Tão aqui, tão perto, tão vivo! Volto ao arame: percorro os últimos metros e, sob um sol brilhante, seguras-me a mão...