terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Viver e Amar

Atravessa o caminho de ouro alvo até ao meu regaço e vive aí; ama aí.
Atravessa a água das Tágides e entrelaça-te nelas por um momento para caíres nos meus braços e vive aí; ama aí.
Atravessa o ar de metal, sonha o nosso Saturno, enrosca-te no meu abraço e vive aí; ama aí.
Desenha-te em linhas gregas em mim, pinta-te impressionista, fala-me de amor, esquece-me a dor.
Traz-me uma fogueira que me aqueça dentro, fundo na alma, que me incendeie a calma e vivemos aí; amamos aí.
Corre e descansa em mim, traça um mapa de mim, percorre as minhas vielas e lugares; dá-me a mão.
Atreve-te no meu coração e vives aí; amo-te aí.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Vesta

Em mim dado e aceite vaporizas-te numa miríade de gotículas que tento segurar... é vão o meu esforço. Quero escrever-te com voz de poeta numa pedra de roseta em mil línguas, quero escrever-te amor. A pena não roça o papel, o cinzel não arranha a pedra eu não te alcanço. Suplício de Tântalo que me envolve e constringe, és quase meu mas nunca és. Lambes-me com o verbo que figuro ler como me mostras. Leio a verdade. Mente embotada a minha que olvida a fealdade que me desconvive. Vesta pretendente a Vénus, criatura errónea, enviesada numa festa de rectas...

Máxima

Não ficar feliz pela acção de outro até saber qual a razão desse outro com essa acção!! Nova máxima de defesa da minha vida... Farta de sentir o tapete deslizar debaixo dos meus pés...

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Dualidade

Nau ancorada no teu cais depois de viajar por tórridos destinos de prazer.
Sinto a tua pele na minha enquanto nos entrelaçamos para encontrar Morfeu.
As nossas peles conversam fora do nosso controlo, enroscamo-nos mais e as palavras dos nossos corpos abrem-se em sentir, calor e paixão.
Num grão de sílica de Cronos apoderas-te dos meus sentidos enquanto enlouqueço com a tua imagem, profundamente bela, a diluir-se para lá do querer.
És peça perdida de mim que encontro… ao fim de uma vida chega ao seu lugar.
Sou sol e reflectes-me em ti, sou lua na tua órbita em ciclos de êxtase, sou planeta que depende do teu calor.
Somos um sistema além da via láctea que se consome em amor…
e esgota-se nesse amor…
e dói nesse amor…
e morre nesse amor…

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Pretensão de Uma Lua

Saturno tem muitas luas que não o sendo prendem-se à órbita do querer. Creêm-se diferentes na sua igualdade de serem luas. Saturno impera com um floco de algodão negro de mentira. Elas eternizam-se desfiando cornucópias de mariposas que embatem cegamente contra a incandescência. Não veêm, não sentem, enrolam-se ternamente no negrume do engano. As luas são felizes quando Saturno as olha. Luas infelizes, tristes e presunçosas que lambem o seu amo que desprezam. Existem no propósito de girar à sua volta e perdem o sentido de serem luas, se não mais, luas. Sofre, Saturno, de mão dada a todas, falha enquanto se esconde em sofismas que lhe permitem continuar a brilhar. E, no entanto, não brilha.

Não sou uma lua. Desejo ser o sol a quem reenvias o brilhar.

Perseguição

Corre célere antes dos meus passos, foge em luz antes da minha espada, enterra-te, esconde-te ou enfrenta-me! Não fales enquanto te persigo, respira apenas e corre... deixa a vida passar, pesada, enquanto te apanho e te roubo o ar!!! Não vislumbras a minha face, não sabes quem sou. Indagas, enquanto tropeças em surpresa nas pedras que controlo. Voo e envolvo-te no breu que te vai sufocando, lentamente, uma sombra quente, irrespirável... peste!! Abandonas a batalha, em que não sabes que lutas, arrastada pelo meu coração em guerra afogada em golfadas de carmim pulsante...  

À Carga!!!!

Volto a gostar de guerras com sangue, mortos, estropiados e sofrimento. Gosto da trincheira, da luta corpo a corpo e da baioneta. Enterrar a espada entre as costelas e sentir a dificuldade de a tirar. O esguicho de sangue quente do inimigo na minha face!!! Do cheiro a queimado enquanto se mente aos feridos e se recolhe os mortos. Das lanças enterradas nos cavalos, do toque à carga de cavalaria. Da bandeira, do tambor e do clarim!! Da loucura da batalha, ser cega no pleno dos sentidos, avançar sempre a golpe de machado, não ver seres humanos mas um inimigo!! Sem falas mansas, acordos, valsas amargas e abraços doces. A guerra, só a guerra conquista território, só com a guerra podemos lutar por enterrar a nossa bandeira no coração da dor...