domingo, 28 de novembro de 2010

Antiqua - Versos Loucos

No mundo, na secção da loucura,
Nasceu uma alma gémea à minha!
Lá, nas profundezas da minha cura
Existe um castiçal de intrigas, que corre, asinha
Trocando o destino da minha paixão
Fazendo-me delirar sempre
P'lo homem que me detem no chão.
Estou farta, morta de cantar o meu fado
De ver este povo desgraçado
Não ter o que comer: não ter um pão!
Lá nessa secção invejada
Onde nascem os perfeitos loucos
Os génios
Os de alma danada
Os gémeos
Das almas da gente
Os de espírito quente...
Aí, encontro a minha paz
No meio de toda a confusa dor
Daquele que sabe que não sabe o que faz
Aí, minha gente, sinto, esgotada, todo o amor!
Nos corredores deste mundo original
Onde podes ver um parvo ou então um marginal
Onde a faca que corta o pão
De uma maneira igual
Te pode rasgar o coração
Sentes-te numa queda incessante
Vendo na pele viscosa e fria
O medo que torna o ar gelado e cortante
Mas eu sinto-me seca!
Eu sou amiga do louco
Que achas que valor tem pouco
Que eu acho que tem muito valor
Que eu acho que é genial
Que é meu igual
Que é o meu amor!

1992

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Erótica

- Um beijo grande cheio de coragem...
- A coragem vai derretendo-se com a chuva que teima em cair...
- Parece que o tempo não tem tempo para nós mergulharmos nele sem relógio... Mas o desenho que se esboça é bonito e a chuva não o apaga... naquela toalha de mesa...
  Beijos molhados lá fora... preservados cá dentro...
- Os humanos têm a estranha opinião de que a chuva não é uma coisa boa ...Talvez por termos a capacidade de nos entristecermos... Quando estamos tristes não ajuda a Natureza também chorar.
- As nossas línguas, a minha e a tua, gostam-se nessas palavras, onde o óbvio se entrelaça com o difuso... mas em que o sentido de ambas, juntas, seca o molhado do frio, e derrete o quente do calor...
- Na minha língua o molhado pode ser quente... o sentido das nossas línguas só tem de encontrar uma palavra que junte os verbos secar e derreter!
  Acho que preciso de um desenho desses verbos na tal toalha de papel... Há que aprender as línguas das nossas Romas!
- Esses verbos querem-se desenhados na tua companhia, alimentados pelas línguas que as palavras põem a entrelaçar... Vou querer em breve...
  Beijos desenhados em Roma... aquecidos no molhado e derretidos na língua...
- Vamos encontrar-nos agora sob a batuta de Morfeu. Aqueço e derreto os beijos de Roma na minha língua...
- Vamos sim... aquecemo-nos os dois nesse sonho moldado pela sua personificação... desejando acordar desse sonho e continuar a sentir o derreter das línguas de Roma, no molhado do sonho...


Nota: Créditos literários a quem o conversou comigo...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Olimpo

Diluimo-nos uns nos outros na nossa dor,
corremos o mundo para nos encontrarmos nestas linhas desfeitas em lágrimas.
Corremos atrás de nós, percorremo-nos profundamente além do verbo,
caímos no engano de sermos... apenas sermos.
Somos, de certa forma, a flecha que vai à frente,
a cor para lá do Arco-Iris, o brilho para lá da Luz!
Estamos todos nessa constelação para além do vazio,
para além do passado, do presente e do futuro... e estamos aqui. No nada.
E agora?
Humanos transmorfados em Deuses, cegos como o Homem,
aos tropeções desesperados por alcançar as estrelas no vazio do céu!!
As sombras são só sombras, só nós o sabemos. E esse saber arrasta-nos lentamente, quase parados, pelas incandescências da dor que nos cauterizam as feridas abertas pelas cores do real.
Choro... por nós... maravilhosos seres que explodem em mil cores,
mil verbos de encantar, mil dores, mil amores...
Deuses na tangibilidade de Serem Humanos!

domingo, 21 de novembro de 2010

Assassinos de mim...

Passo a vida a interpretar, a ver de forma relativa e a colocar-me nos sapatos dos outros.
O que recebi? Bem, foi-me dado a conhecer o lado mais obscuro da alma humana. Este lado fascina-me quando o observo mas tem-me trazido muitas dores quando o vivo. Tenho lidado com ladrões, assassinos e violadores... dou-me bem com todos. Resolvo, esclareço, baralho e torno a dar... E a minha vida vai ficando com bocadinhos de cada um. Vou constuindo-me, passando pela vida dando a ideia de que a vejo passar... Um engano. E esse engano vai custando-me o que me é mais precioso... o amor. Em tempos, quando apenas observava e agia nos outros, pensei que o amor direccionava a essência humana mantendo-a naquele equilíbrio da existência entre a razão e o instinto. Hoje realizo que o amor é um instinto, que de muito pouco serve à alma humana. O espírito humano é a razão e a razão é o bastante para justificar os assassinos de mim...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Angústia

Estou baralhada em certezas. Certezas que a razão confirma e o mundo desmente. Estou baralhada na certeza de amar e de ser amada e no quanto tudo isso é nada. Estou baralhada na certeza de que sou tua e tu não és meu. Estou baralhada na razão.

O humor que me corrói as vísceras é doce. A luva que me arranca as entranhas é de veludo. A mão que me conforta é ácida. Os lábios que não me tocam são veneno.
Choro ternura, vomito carinho, suo amor. Excreções que liberto e perco, que se diluem no mundo, como gotas minúsculas de humidade no nevoeiro… no nada. Vivo porque inspiro cnidas que me reconstroem, ferem, sangram… sangro. Estou viva.
Algo que era de mim partiu contigo. Uma parte de ti ainda aqui está… impaciente por ir… impaciente por voltar…

sábado, 13 de novembro de 2010

Espelho

Procuras o reflexo, que é meu,
na tua imagem devolvida na janela;
pensas ver-me, mas és tu...
Contrais-me no que vês,
cada vez mais difícil...

Tu irrompes, rasgando-me, quebrando o reflexo
que é o meu!
Em espasmos quânticos vais aparecendo mais e mais...

O firmamento de Rod dilui-se lentamente
na nova perspectiva de Roma que lhe surge.
Partícula por partícula, imagem por imagem...
Roma é Roma, inimitável, inigualável...

talvez representável!?

Rod aguarda.
Roma real, firma-se na base...
Observa segura que é singular! 

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Amor

Amor??? Amor é guano, é massa alvacenta, disforme...
é o que se pisa e amaldiçoa-se
é vómito embriagado, inútil!

Amor??? Amor é vontade de morrer, só...
é escuridão podre e fétida
é o ânus da humanidade, ferida séptica!

Amor??? Amor é fúria, é guerra, é morte...
é o Ser desmembrado, partido e quebrado
é a larva pútrida que surge de dentro da vítima que suga!!!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Vi uma estrela numa noite de tempestade...

Vi uma estrela cadente...
E o meu coração brilhou e transbordou de vida e de amor!
Vi uma estrela cair...
E na mística da impossibilidade de tal acontecer,
acreditei que o sol pode brilhar com mais força e mais belo a seguir a uma tempestade;
que o Arco-Íris explode em mil cores depois do cinzento.
Vi uma estrela numa noite de tempestade...
quando o céu não estava ali...
O Universo vive e transforma-se em impossibilidades que acontecem!
A vida acontece!!

A Máquina II

A máquina vai laborando, fantástica... Os brilhos e as cores raiam por ela, por cada
roda, cada fenda. A ferrugem, o pó e as teias desaparecem explodindo em pureza e
vida... O produto cresce, melhora, torna-se fluido, menos doloroso!
O homem contempla num misto de espanto e desilusão...
O produto acumula-se em pilhas de ilusão. Pensa na outra máquina que, no andar de baixo, vai laborando o produto novo... Um frio no estômago lembra-lhe a novidade, o que ainda aprende sobre o produto novo... Há tanta coisa para saber e descobrir.
A velha máquina é fantástica, de facto, mas pensa que sabe tudo sobre ela; o produto é extraordinário

- estava perdida essa memória nos confins da sua razão -

mas de que lhe serve agora?
Para que quer ele esta matéria fora de tempo?
Para nada!!
Embrenha-se no brilho e nas cores e desaparece rumo ao abismo... para o andar de baixo...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Rod e Roma

Rod governa Roma por entre fantasmas
Soprando-lhe vida no coração
Guiando poderoso as almas
Que gritam desesperadas: Não!
Roma é ser-se pessoa, ser Eu
Revoltar-se com Rod, violento,
Procurar o batimento que perdeu
em lanternas que vagueiam ao vento!
Perder-se em Roma vagueando à deriva
é procurar Rod e fugir dele,
fugir da natureza ablativa
que fervilha em vagas desfeitas naquele!
é ser-se infeliz e feliz, abandonando o controlo
mudar o mundo num segundo e
penitenciar no templo de Apolo...
Somos nós e o outro, ambos no mesmo tempo,
Apontamos e abstraímos.
Somos pessoas...
num momento!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A Máquina

Por entre a neblina criada pelo pó levantado pelos seus movimentos, foi vendo definir-se na sua frente um mecanismo... uma máquina esquecida no tempo, esquecida da sua função, esquecida do seu propósito...
Aproximou-se e foi retirando pacientemente as camadas de pó que a cobriam. Ficaram finalmente a descoberto várias rodas dentadas ferrugentas, castanhas, feias.
Pegou numa manivela e começou a tentar colocar o mecanismo a funcionar. Tentou e tentou e tentou, até que a máquina o venceu e ele se afastou... para mais longe... e mais longe... e mais longe...
e quando estava prestes a desaparecer na neblina de pó, a máquina começou, lentamente, a gemer, a rodar... com esforço e pesada, no início, partindo a ferrugem, libertando-se do esquecimento e do tempo que a cobria. Ficou mais célere, voltando a ganhar a vida de outrora...
brilhava, emanava uma luz fantástica cheia de energia e vontade de cumprir o seu propósito. Ele olhou, observou, voltou-se... e desapareceu no pó!

Chave

Durmo... sonho... acordo...
onde está a chave?
Num ímpeto corro para o vazio ignorando a existência da porta.
Onde está a chave?
Eu quero passar, necessito de passar... porque não consigo passar?
Onde está a chave?
É por ali que eu vou... mas não consigo ir!
Introduz-se uma chave, abre-se a porta... eu fico...só...
Onde estava a chave?
é tarde... e em mil pedaços desfaço-me em nada, memórias escuras que ninguém deseja!
Do vento, o nada encorpa-se, vive... eu sou a chave!
Onde está a porta?...
é tarde... ao longe, por entre a névoa do vazio... a porta!
Introduz-se a chave, tranca-se a porta.