domingo, 12 de dezembro de 2010

Arame

Tenho os pés descalços sobre o arame, olho em frente e a névoa não me permite ver o objectivo...
Os músculos e os tendões vão fazendo o seu trabalho mantendo-me neste equilíbrio instável sobre o abismo.
Avanço, deslizando no fio, sentindo cada milímetro do seu toque... fixo-me no vazio branco à minha frente...
Vens-me à memória como uma insuportável imagem de conforto perante o desafio de agora!
Como é bom estar cá em cima, sentir o vento frio a provocar-me... eu e a morte - eu e a vida!
Percorro mais alguns metros e os meus pés sangram, agora, ao passar as pontas retorcidas do arame que se tornou farpado...
Estou viva, não é um sonho! Desta feita, vens-me tu à memória abanando-me o coração... fazendo-o bater!
Cercam-me sombras, imagens desfocadas e translúcidas de quem só conheço na curva da imaginação...
Enfiam as mãos fantasmagóricas no meu cérebro e desfiam de lá a culpa, a consciência, a maldade e a dor...
Dou mais uns passos... o vazio cega-me...

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